Nos últimos anos, a popularidade das infusões de vitaminas na veia cresceu tanto que virou tendência nas redes sociais. Celebridades, influenciadores e até clínicas estéticas passaram a oferecer o que ficou conhecido como “shot de energia”, “hidratação intravenosa” ou “coquetel de vitaminas”.
Mas será que é tudo tão simples assim?
Para a nefrologista Dra. Fabiana Caviquioli, que há mais de 20 anos atua com pacientes de alta complexidade, a resposta é direta: não.
“Você acha que suplementação endovenosa é só colocar uma vitamina na veia? Parece simples, né? Mas por trás de cada infusão existe um raciocínio clínico. Isso não é estética, não é moda. É ciência. É terapia séria — com benefícios claros e riscos reais se feita de forma errada.”
Por que a via endovenosa é diferente?
O que torna esse tipo de suplementação especial é a rota pela qual os nutrientes chegam ao organismo. A maioria das cápsulas, pós e comprimidos depende da absorção intestinal — e é aí que muitos pacientes falham.
“Pensa no seu corpo como uma casa em reforma. Você colocaria tijolos novos numa parede que está desabando por dentro? É isso que acontece quando você tenta resolver com cápsulas o que o intestino não está absorvendo.”
A via endovenosa bypassa o intestino. Isso significa que os nutrientes não precisam passar pelo sistema digestivo para entrar em ação. Eles vão direto para o sangue, para o fígado, para os tecidos.
“É como entrar por uma porta VIP: sem fila, sem barreiras, sem desperdício. Resultado? Absorção total e resposta clínica rápida.”
Para quem a suplementação endovenosa é indicada?
- Essa estratégia pode ser indicada por um médico para diversos perfis clínicos, como:
- Pacientes com má absorção intestinal (pós-bariátricos, desnutridos, colites, Crohn).
- Portadores de síndrome metabólica, diabetes ou resistência à insulina.
- Pessoas com fadiga crônica, queda de desempenho, ou em desequilíbrio hormonal.
- Pacientes oncológicos, imunossuprimidos, ou em recuperação após cirurgias e internações longas.
- Mulheres na menopausa com baixa resposta à reposição tradicional.
- Indivíduos com doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, ou com dor crônica e fibromialgia.
“Mas meus exames estão normais…” Será mesmo? Um dos equívocos mais comuns é acreditar que só se deve suplementar o que está “baixo no papel”. Mas a medicina clínica vai além da análise laboratorial básica.
“Nem sempre o exame mostra tudo. Algumas vitaminas e aminoácidos não são dosados na rotina — seja pelo custo, instabilidade laboratorial ou por exigirem métodos específicos. E mais: o metabolismo funciona como uma engrenagem. Às vezes o que falta não é o ferro ou a B12, mas o cofator da reação.”
Isso inclui nutrientes como magnésio, selênio, B6, B9 e aminoácidos que participam de reações em cadeia fundamentais para a produção de energia, detoxificação e imunidade.
Infusão não é só “vitamina no soro” — é medicina personalizada. A Dra. Fabiana reforça que não se trata apenas de “repor” nutrientes, mas de avaliar a funcionalidade do corpo como um todo. Isso exige experiência clínica, interpretação de sinais sutis e um olhar integrativo.
“Assim como você não coloca combustível errado no carro, você não infunde nutrientes sem avaliar função hepática, renal, medicamentos em uso e histórico clínico.”
Em outras palavras: infusão mal indicada pode causar sobrecarga, desequilíbrios e até riscos maiores em pacientes vulneráveis.
Quando começar? Antes que o corpo quebre. A suplementação endovenosa pode ser usada tanto como suporte terapêutico quanto como medida preventiva em situações específicas.
“O melhor momento para cuidar disso? Não espere o corpo quebrar para agir. A saúde não é só aparência. É resistência de dentro pra fora.”
E ela finaliza com o recado mais importante: “Não adie o cuidado que transforma. Amanhã pode exigir um esforço muito maior. O tempo certo é agora. É seu equilíbrio. É sua saúde. É sua vida.”


