Cirurgia bariátrica salva vidas, mas o verdadeiro desafio começa após a perda de peso.
Dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) mostram que 74.738 cirurgias foram realizadas no Brasil em 2022. Atualmente, a estimativa é de 90 a 100 mil procedimentos por ano, colocando o país como o segundo no mundo em volume de cirurgias bariátricas — atrás apenas dos Estados Unidos. Apesar dos benefícios evidentes, estudos de longo prazo revelam riscos nutricionais importantes em pacientes que não recebem acompanhamento adequado.
“A cirurgia salva vidas, sim”, afirma a nefrologista e generalista Dra. Fabiana Caviquioli. Ela destaca os avanços clínicos observados: melhora do diabetes, da pressão arterial, do colesterol, da apneia, do refluxo e do fígado gorduroso. “Mas emagrecer é só o começo. E viver com saúde?”
Com mais de 20 anos de experiência no cuidado de pacientes graves em UTI, a médica alerta: “O corpo mudou por fora. Mas e por dentro?” Após a cirurgia, o sistema digestivo passa a operar como uma cidade com desvios e vias bloqueadas. A absorção de nutrientes despenca, a produção hormonal se altera, e o metabolismo perde sinalizações químicas fundamentais.
“Você não é só o que come. É o que consegue absorver.” Deficiências de B12, ferro, cálcio, magnésio, vitaminas A, D, E, K e zinco são comuns — e os sintomas nem sempre são evidentes. “Você está cansado, ou seu cérebro está faminto?”, questiona. A tristeza, a apatia e a irritabilidade podem indicar uma “depressão nutricional” — quando o corpo não tem matéria- prima suficiente para produzir neurotransmissores como serotonina e dopamina.
Sem acompanhamento contínuo, os riscos se acumulam: osteoporose precoce, cálculo renal, rabdomiólise, lesão hepática e alterações hormonais. “Nutriente não se resolve com força de vontade. Nem sempre com comprimidos. Às vezes, só com reposição intravenosa.”
A chave está na combinação de exames regulares, suplementação individualizada e cuidado especializado. “A cirurgia pode mudar sua vida. Mas, sem cuidado, pode comprometer sua saúde. O recomeço precisa vir com equilíbrio.”