A cultura da automedicação é forte no Brasil e vem se agravando. Uma pesquisa de 2024 revelou que 86% dos brasileiros admitem tomar medicamentos por conta própria, sem orientação médica . Esse hábito, antes visto em casos pontuais de dor de cabeça ou resfriados, hoje se estende a anti-inflamatórios, suplementos e até “remédios populares” indicados por amigos ou pela internet. “Passei mais de vinte anos trabalhando em hospitais, cuidando de pacientes críticos e vendo de perto os danos que o uso irresponsável de medicamentos pode causar”, relata a nefrologista Dra. Fabiana Caviquioli, que atuou em UTIs ao longo de duas décadas. Ela observa que cada vez mais jovens recorrem a fármacos sem receita. Um estudo recente corrobora essa percepção ao mostrar que a ingestão de medicamentos entre os jovens “tem crescido bastante” – especialmente calmantes e ansiolíticos – alimentando uma perigosa dependência química.
Riscos Graves para a Saúde
Os medicamentos, quando usados sem critério, podem se tornar verdadeiros vilões para o organismo. “Você sabe das consequências do uso indiscriminado de medicamentos? É muito comum receber pacientes com ‘receitas copiadas’”, alerta Dra. Fabiana, referindo-se a pessoas que repetem fórmulas de conhecidos sem avaliação médica. “Mas medicina não é receita de bolo: um remédio que funcionou para uma pessoa pode ser prejudicial para outra”, enfatiza. Os efeitos colaterais do uso indevido vão desde reações alérgicas e intoxicações até problemas potencialmente fatais. Ela ainda alerta que o abuso de anti-inflamatórios sobrecarrega os rins, enquanto o uso excessivo de analgésicos prejudica o fígado. O Ministério da Saúde também reforça que a ingestão inadequada de remédios pode causar dependência, intoxicação e até a morte . Ou seja, aquele “remedinho” aparentemente inofensivo pode desencadear uma reação em cadeia de problemas de saúde.
Internações e Mortes em Números
As consequências da automedicação já são vistas nas emergências. Dados do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (Sinitox) indicam que, no Brasil, ocorrem mais de 30 mil internações por intoxicação medicamentosa por ano, e estima-se que cerca de 20 mil pessoas morrem anualmente em função dessa prática . Entre os jovens, além dos casos de overdose intencional, há ocorrências de lesões hepáticas por suplementos “naturais” e complicações renais pelo uso prolongado de anti-inflamatórios sem supervisão. Mascarar sintomas com medicamentos pode atrasar diagnósticos importantes – um analgésico para dor abdominal, por exemplo, pode esconder uma apendicite até ser tarde demais. Dra. Fabiana Caviquioli salienta a importância do acompanhamento médico: “Um profissional vai avaliar cada caso individualmente, pedir exames se necessário e orientar o tratamento seguro. É melhor prevenir com orientação do que remediar complicações no hospital.”
Responsabilidade e Orientação Profissional
A mensagem que fica é clara: automedicar-se não vale o risco. Cada organismo reage de forma diferente, e somente um médico pode definir o medicamento certo na dose correta para cada pessoa. A facilidade de comprar remédios sem receita não deve ser confundida com segurança no uso. “Procure orientação médica. Não existe fórmula mágica sem riscos”, aconselha Dra. Fabiana. Adotar uma postura consciente diante dos medicamentos pode salvar vidas.